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Um espelho quebrado: a sub-representação dos diretores afro-colombianos no cinema colombiano

Atualizado: 19 de jul.

Embora seja verdade que o Quibdó Africa Film Festival recebeu 49 filmes colombianos para a sua sexta versão e selecionou 18 para a competição oficial, a realidade é que apenas 6 deles foram dirigidos por cineastas afro-colombianos. Esta disparidade reflete um problema mais amplo de sub-representação na indústria cinematográfica colombiana.



À primeira vista, a cena cinematográfica colombiana parece transbordar de vitalidade e diversidade. Filmes aclamados pela crítica como “Memoria” de Apichatpong Weerasethakul e “O Abraço da Serpente” de Ciro Guerra posicionaram-se no cenário internacional, catapultando a Colômbia como uma referência cinematográfica emergente. No entanto, por trás deste aparente brilho reside uma realidade preocupante: a baixa representação dos diretores afro-colombianos na indústria.


Os números falam por si. Em 2020, apenas 7% dos filmes colombianos lançados foram dirigidos por afro-colombianos, um número que contrasta fortemente com os 30% da população afrodescendente do país. Esta disparidade não é uma mera coincidência, mas sim o reflexo de um sistema cinematográfico atormentado por desigualdades e barreiras estruturais que marginalizam as vozes afro-colombianas.


As raízes do problema residem nas profundas desigualdades sociais e raciais que marcaram a história da Colômbia. A discriminação sistémica, a falta de acesso a oportunidades educativas e a sub-representação nos meios de comunicação social criaram um ambiente hostil ao desenvolvimento dos cineastas afro-colombianos. A falta de visibilidade e representação nos meios de comunicação social perpetua estereótipos e limita o reconhecimento de talentos emergentes.


Além disso, as dificuldades de acesso ao financiamento e ao apoio institucional agravam esta situação. O financiamento de filmes e as oportunidades de formação centram-se frequentemente em cineastas com maior visibilidade e ligações dentro da indústria, deixando os afro-colombianos com dificuldades em encontrar o apoio necessário para levar as suas histórias ao grande ecrã. A burocracia e a falta de transparência na atribuição de recursos também desempenham um papel na perpetuação destas barreiras.


As consequências desta sub-representação são palpáveis. A ausência de diretores afro-colombianos nas salas de cinema significa que as histórias, experiências e perspectivas de uma parcela significativa da população colombiana são relegadas a segundo plano. Perpetua-se uma narrativa cinematográfica incompleta, que ignora a riqueza cultural e a complexidade social do país. Isto não só empobrece a cultura cinematográfica nacional, mas também priva o público de uma visão mais completa e diversificada da realidade colombiana.


No entanto, nem tudo está perdido. Nos últimos anos, tem havido um movimento crescente de cineastas afro-colombianos desafiando barreiras e reivindicando o seu espaço na indústria. Figuras como Jhonny Hendrix Hinestroza, Reyson Velásquez e Robert Brand Ordóñez conseguiram avançar com filmes que exploram questões relevantes para a comunidade afro-colombiana e questionam os estereótipos que a marginalizaram. As suas obras não são apenas um testemunho da resiliência e criatividade dos afro-colombianos, mas também um exemplo do potencial transformador do cinema.


É essencial que a indústria cinematográfica colombiana reconheça a urgência de resolver este problema. São necessárias ações concretas para promover a inclusão e a diversidade, desde a implementação de políticas de seleção mais equitativas até à criação de programas de apoio específicos para cineastas afro-colombianos. Isto inclui a criação de fundos destinados exclusivamente a projetos liderados por afro-colombianos, bem como a inclusão de critérios de diversidade na avaliação de propostas cinematográficas.


O cinema tem o poder de refletir a realidade, de gerar empatia e de promover o diálogo social. É hora do cinema colombiano assumir este compromisso e abrir as portas à diversidade de vozes que compõem o país. Só assim poderemos construir um panorama cinematográfico verdadeiramente representativo e enriquecedor. Para além dos números e das estatísticas, é importante destacar o impacto humano desta sub-representação. Os jovens afro-colombianos que aspiram a tornar-se cineastas enfrentam a realidade desanimadora de uma indústria que não os reflete nem lhes oferece oportunidades. Esta falta de representação pode levar a sentimentos de frustração, invisibilidade e falta de pertencimento.


É necessário criar um ambiente onde os jovens afro-colombianos se sintam inspirados e capacitados para perseguir os seus sonhos cinematográficos. Programas de educação audiovisual, oficinas de roteiro e direção e espaços de encontro com cineastas afro-colombianos consagrados podem ser ferramentas valiosas para incentivar o desenvolvimento de novas vozes e perspectivas. Além disso, a promoção de festivais de cinema que destacam o trabalho dos cineastas afro-colombianos e a criação de redes de apoio profissional podem facilitar o acesso a oportunidades e recursos.


A indústria cinematográfica colombiana tem a responsabilidade de se tornar um agente de mudança. Ao promover a inclusão e a diversidade, você não só enriquece o panorama cinematográfico nacional, mas também contribui para a construção de uma sociedade mais justa e equitativa. O caminho para uma representação equitativa no cinema colombiano não será fácil, mas vale a pena percorrer. Juntos, podemos construir um futuro onde as histórias de todos os colombianos, independentemente da sua origem ou cor da pele, tenham a oportunidade de ser contadas e celebradas no grande ecrã.


O desafio é grande, mas as recompensas são imensas. Um cinema inclusivo e diversificado não só reflecte melhor a realidade de um país multicultural como a Colômbia, mas também tem o potencial de transformar percepções, quebrar estereótipos e construir pontes de compreensão entre diferentes comunidades. É hora de o cinema colombiano se olhar no espelho quebrado da sub-representação e se comprometer a repará-lo, para que todas as vozes possam ser ouvidas e todas as histórias possam ser contadas.

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